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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Preservação do peixe-boi em Rio Tinto é tema de reportagem do programa Terra da Gente



Quando o dia amanhece, começa também a rotina de seu Biruca. Ele percorre a pequena vila de pescadores rumo à beira do mar. Antigamente fazia esse mesmo caminho para pegar o barco e ir atrás de peixe. Agora a missão é outra: o destino é um ponto de observação no alto da duna. O local de trabalho de seu Biruca tem vista para dar inveja a qualquer um. Os olhos claros parecem refletir a paisagem pintada de verde e azul pela natureza. Mas o que ele procura são pequenas manchas escuras na água: os peixes-bois.

O peixe-boi-marinho está entre as espécies mais ameaçadas do Brasil. A Barra do Mamanguape, litoral norte da Paraíba, é o local onde ele está protegido. Isso só é possível pelas ações do Governo, de ONGs e de nativos, como o seu Biruca. Ele cresceu convivendo com o bicho, conhece o comportamento dele e fornece informações valiosas para o monitoramento da espécie.





Mas nem sempre foi assim… No passado o peixe-boi era inimigo do pescador. O bicho era caçado para servir de alimento. A consciência começou a mudar depois que a Barra do Mamanguape virou área de proteção ambiental e ganhou uma base da Fundação Mamíferos Aquáticos, uma ONG que desde 1989 pesquisa e protege o peixe-boi.

Vendo de cima dá para entender melhor como o lugar é especial. O rio Mamanguape deságua no mar formando um estuário de águas tranquilas e com muitas plantas aquáticas. Tudo é cercado por um imenso cordão de recifes, uma barreira natural que protege a área de ponta a ponta. Serve para quebrar as ondas fortes que vêm do alto-mar. E aí o peixe-boi encontra o lugar ideal para viver.

O trabalho do seu Biruca é observar quantos animais vivem no estuário, para onde estão indo e se existe algo de anormal. O TG monta uma força tarefa para encontrar os peixes-bois. Juntam-se à missão uma equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos, o seu Biruca e o pessoal do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela área de proteção. Eles usam uma antena e um receptor para captar o sinal de dois animais que carregam um dispositivo de localização. O grupo chega a uma praia para ver se, do alto, recebem algum sinal do bicho. A experiência dos nativos indica que ele saiu do mar e foi para o rio. O peixe-boi faz isso quando precisa beber água doce. E é para lá que segue a equipe.

A água está muito turva. É praticamente impossível enxergar o peixe-boi da superfície. A sorte é que o localizador tem uma boia. Logo um deles é encontrado. É um momento incrível! Assim que percebe a presença dos cuidadores, o peixe-boi se aproxima do barco. É um animal extremamente dócil.

O veterinário da Fundação Mamíferos Aquáticos explica que ele encalhou quando era filhote, cresceu em cativeiro e depois foi solto. Por isso não tem medo do homem. O mais incrível é que é um animal que está livre para ir para qualquer lugar, qualquer praia ou região, mas prefere ficar ali.

O peixe-boi tem esse nome porque gosta de um tipo de capim que cresce debaixo d´água. Um adulto pode comer até 60 quilos por dia. E como todo mamífero, precisa respirar fora d´água. Uma das maiores causas de acidentes com os peixes-bois são as colisões com barcos e outras embarcações. O animal que aparece para a equipe do TG é o Puã. Uma hélice de motor o atingiu no dorso e ele está sendo tratado por causa disso, toma remédio e vitaminas na seringa. Mas para convencê-lo é preciso disfarçar a medicação com pedaços de beterraba. É um menino, de 300 quilos. E, em pleno desenvolvimento, pode chegar a 600 quilos. Com o trabalho de conscientização, surge uma nova geração que sabe cuidar e proteger o peixe-boi.

Não se sabe exatamente quantos peixes-bois-marinhos existem no litoral do Nordeste, mas o último censo contou mais de mil. Acredita-se que a maior população esteja na Barra do Mamanguape. É por isso que a fundação incentiva atividades que não prejudiquem o ambiente do bicho, como, por exemplo, a extração artesanal de mariscos sem o uso de equipamento que arranquem as plantas aquáticas.

Na sede da eco-oficina as mulheres aprenderam a confeccionar o peixe-boi de pelúcia. É uma nova fonte de renda que também ajuda a conscientizar sobre a importância da espécie. Na Barra do Mamanguape o peixe-boi é mais que um morador. É um símbolo que todos fazem questão de preservar.


Da redação

Terra da Gente

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